FUGITIVOS – CAPÍTULO 17

A casa era velha. A varanda estava caindo aos pedaços, a tinta descascando da parede e várias janelas quebradas. Quando Martin pisou na varanda em frente a porta, o chão rangeu. O Garra o seguia, quieto e atento dentro daquela máscara negra.

Mas a tensão de Martin estava voltada para Drak. Esse cara tinha causado muito problema durante pouco tempo. Lembrava muitos violões que o detetive tinha enfrentado em sua carreira – inclusive Arbost. E como todo vilão dessa categoria, Martin esperava por mais alguma desgraça vindoura. Esses psicopatas sempre deixavam marcas doloridas e quase sempre incuráveis. Como o pobre Robert, pensou o detetive empurrando lentamente a porta velha da casa. Martin vinha se perguntando como Robert ia viver depois de tud0 o que lhe ocorrera. Como alguém poderia superar?

Martin  olhou para a estrada. Era uma Black Street. Um apito de urgência dizia ao detetive que Drak não era apenas um homem comum. Das Black Streets nunca surgiam homens comuns.

– Vá devagar. Quero pegar o safado desprevenido – sussurrou Garra.

Martin assentiu com a cabeça. Assim que entraram no salão, um cheiro de mofo invadiu suas narinas. Teias de aranha se espalhavam pela sala vazia e escura. Não havia mais cômodos na casa, apenas o salão.

Os olhos de Martin se adaptaram a escuridão rapidamente. E foi quando o detetive soube que as desgraças estavam prestes a continuar.

Jailson estava preso a uma cadeira do lado esquerdo e Dawson, preso a outra do lado direito. No meio, em pé, Cid segurava uma calibre doze em cada uma das mãos, apontadas para a cabeça do chefe e do policial.

– Ora, ora, ora – disse o bandido – Chegaram bem na hora.

Martin sentiu as mãos tremerem por um momento. Estava pronto para descer a porrada nesse desgraçado.

Os olhos inchados de Jailson significavam a sua provável resistência aos bandidos. Dawson respirava com dificuldade pois o esparadrapo em sua boca tinha sido colocado porcamente.

– E temos um participante novo. Que surpresa, não é, senhor Garra?

O mascarado permanecia quieto e paralisado. Talvez pensando em alguma forma de salvar os dois policiais. E como fazer isso sem arriscar perder a vida de alguém?

– Tolice de vocês acharem que pegariam Drak dessa maneira ingênua. Posso dizer com certeza que aquele cara não será pego por vocês, detetives idiotas.

– O que vocês querem? – indagou Martin.

Cid estava prestes a responder, mas o Garra interrompeu.

– Não vale a pena perder tempo com ele, Martin – disse o mascarado – Ele é só um capanga. Não tem nada a dizer.

– Aí é que você se engana, herói. Drak tem muitas formas de trabalhar. Formas diferentes de todos os bandidos egoístas que vocês já enfrentaram.

– Como você pode saber alguma coisa? – desafiou o Garra – Quem pode dizer que você não está sendo usado como isca aqui?

– Porque eu tenho o poder de tirar e dar a vida. Foi este poder que Drak nos deu.

– De que merda você está falando? – perguntou Martin.

Cid deu uma gargalhada e por um momento, Martin pensou que ele ia estourar os miolos de Jailson e Dawson. Mas não aconteceu. Entretanto, Martin sabia que era só uma questão de tempo. Ele já tinha visto do que Cid era capaz.

– Pode até ser que você esteja alucinado pela ideia de ser Deus. Mas antes que consiga puxar o gatilho eu mando você direto para o inferno.

– Será mesmo? Será que o tão honesto detetive Martin Santos deixaria uma justiça assim acontecer neste local? Deixaria a minha insanidade vencer a justiça de vocês?

Martin rangeu os dentes. Não era a primeira vez que escutava aquele discurso – talvez não seria a última. Ele já tinha pensado em todas as formas possíveis de derrotar com Cid. Nenhuma acabaria muito bem. Jailson baleado – ou morto. Dawson baleado – ou morto. Ele ou Garra baleados. Cid morto. 

– Receio não ter muito tempo para discutir. Eu tenho uma proposta justa para vocês.

Proposta? De um psicopata? Martin continuava pensando. Devia haver alguma forma de acabar com o show de Cid.

– Creio que vai ser uma proposta vantajosa para vocês.

Garra estava calado. Martin suspeitou que ele também devia estar pensando em uma forma de parar Cid. Talvez escutar a proposta do bandido ganhasse tempo.

– Diga logo essa merda de proposta – disse Martin.

Cid soltou um risinho com um tom de orgulho.

– Exatamente como Drak me disse. Você não dobra o orgulho de uma pessoa, você faz ela se dobrar. 

Martin continuava pensando. Garra quieto por trás da máscara.

– Vamos negociar, detetive Martin.

 

CONTINUA…

POR NAÔR WILLIANS

 

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