FUGITIVOS – CAPÍTULO 18

Carlos enxergou Francisco revirando os últimos dois corpos de policiais mortos. Do outro lado, Marcos Aurélio brincava com sua calibre 12 enquanto Edward Boone roubava o dinheiro dos policiais mortos.

O subchefe recarregou sua arma. Três tiros. Três mortes. Ele precisava fazer aquilo. Lisa não ia resistir por muito tempo. Lisa dependia dele. A palavra depender incomodava Carlos profundamente. Algo em seu passado o obrigava a se esquivar dessa palavra. Era por esse motivo que ele não tinha esposa ou relacionamentos. Sua vida solitária era a melhor forma de escapar desse demônio chamado dependência.

– Ele não está aqui – resmungou Francisco irritado – O desgraçado não está aqui!

– Como isso é possível? Nós atiramos em todo mundo, inclusive no subchefe que estava sentado nesse banco ao seu lado – disse Marcos.

– Eu estou de saco cheio. Nós já perdemos muito tempo aqui. Quem se importa com o subchefe? – falou Edward.

Francisco saiu apressado na direção dele e o agarrou pela gola.

– Eu me importo, seu poço de merda! E se não achar a cabeça dele, acredite, vou pegar a sua no lugar.

Edward recuou depois que Francisco soltou sua gola. Suas mãos tremiam um pouco. Carlos sabia que Francisco era perigoso, mas até aquele momento não tinha entendido o quanto. Os bandidos o respeitavam e isso era mais perigoso ainda.

O subchefe pensara em barganhar com os bandidos. Ou colocá-los uns contra os outros – quase sempre funcionava. Mas não tinha mais tempo. Se quissesse tomar uma atitude teria que ser imediatamente.

Entretanto, neste momento, Lisa tossiu no andar de cima e isso chamou a atenção dos bandidos.

– Algum de vocês fez o favor de olhar lá em cima? – questionou Francisco.

Marcos e Edward não responderam e Francisco xingou um palavrão em alta voz. Porém, antes mesmo que ele pudesse fechar a boca, uma bala o atingiu no meio da testa e ele caiu no chão, morto.

Marcos e Edward saltaram do lugar onde estavam, assustados. Edward foi o primeiro que enxergou o subchefe na escada.

– Ali! O diabo está ali!

Foram as últimas palavras de Edward Boone. Duas balas o atingiram. Uma no olho e outra no pescoço.

Marcos Aurélio rolou para o lado enquanto o corpo de Boone caia no chão. Carlos disparou, mas o bandido conseguiu se esquivar e em seguida disparou com sua calibre 12. 

A dor subiu da perna até a cabeça do subchefe. Seu revolver escorregou e caiu. Sua perna tinha sido atingida. Era como se estivesse pisando em brasas.

Marcos apareceu apontando a doze na direção do subchefe.

– Boa tentativa – disse o bandido ofegante.

Carlos tentou andar, mas acabou perdendo o equilibrio e caindo no chão. A perna latejou como se houvessem pontas de agulhas entrando e saindo de sua pele. Ele raspou os dentes.

– Eu não entendo essa mania de querer ser herói – era a voz de Marcos; os passos estavam próximos – Você poderia ter fugido ou se escondido, mas preferiu bancar o herói e olha só no que seu ato resultou. Dois homens mortos por um subchefe de polícia.

Carlos olhou para os lados. Onde sua arma tinha caído?

– Que linda notícia para o jornal de Castle Rock. Apesar de nossa cidade estar nessa situação lamentável, creio que o jornal não vai perder essa oportunidade.

O cano da arma de Marcos estava apontado no rosto do subchefe. Lisa ainda agonizava no andar de cima. O que ele faria agora? Não podia morrer. Ainda não. A palavra dependência estava voltando outra vez. Lembrando o subchefe de seus fracassos passados. Estariam se repetindo?

– Será que eles vão te reconhecer se eu atirar bem no rosto? – o bandido abriu um sorriso de satisfação – Acho que não. O herói matador de bandidos é encontrado sem cabeça. Essa notícia vai bombar.

Marcos Aurélio gargalhou e ajeitou a arma. Em seguida, o som de tiro ecoou no salão da delegacia.

A oficial Dias suspirou. Um último suspiro.

 

CONTINUA…

POR NAÔR WILLIANS

FUGITIVOS – CAPÍTULO 17

A casa era velha. A varanda estava caindo aos pedaços, a tinta descascando da parede e várias janelas quebradas. Quando Martin pisou na varanda em frente a porta, o chão rangeu. O Garra o seguia, quieto e atento dentro daquela máscara negra.

Mas a tensão de Martin estava voltada para Drak. Esse cara tinha causado muito problema durante pouco tempo. Lembrava muitos violões que o detetive tinha enfrentado em sua carreira – inclusive Arbost. E como todo vilão dessa categoria, Martin esperava por mais alguma desgraça vindoura. Esses psicopatas sempre deixavam marcas doloridas e quase sempre incuráveis. Como o pobre Robert, pensou o detetive empurrando lentamente a porta velha da casa. Martin vinha se perguntando como Robert ia viver depois de tud0 o que lhe ocorrera. Como alguém poderia superar?

Martin  olhou para a estrada. Era uma Black Street. Um apito de urgência dizia ao detetive que Drak não era apenas um homem comum. Das Black Streets nunca surgiam homens comuns.

– Vá devagar. Quero pegar o safado desprevenido – sussurrou Garra.

Martin assentiu com a cabeça. Assim que entraram no salão, um cheiro de mofo invadiu suas narinas. Teias de aranha se espalhavam pela sala vazia e escura. Não havia mais cômodos na casa, apenas o salão.

Os olhos de Martin se adaptaram a escuridão rapidamente. E foi quando o detetive soube que as desgraças estavam prestes a continuar.

Jailson estava preso a uma cadeira do lado esquerdo e Dawson, preso a outra do lado direito. No meio, em pé, Cid segurava uma calibre doze em cada uma das mãos, apontadas para a cabeça do chefe e do policial.

– Ora, ora, ora – disse o bandido – Chegaram bem na hora.

Martin sentiu as mãos tremerem por um momento. Estava pronto para descer a porrada nesse desgraçado.

Os olhos inchados de Jailson significavam a sua provável resistência aos bandidos. Dawson respirava com dificuldade pois o esparadrapo em sua boca tinha sido colocado porcamente.

– E temos um participante novo. Que surpresa, não é, senhor Garra?

O mascarado permanecia quieto e paralisado. Talvez pensando em alguma forma de salvar os dois policiais. E como fazer isso sem arriscar perder a vida de alguém?

– Tolice de vocês acharem que pegariam Drak dessa maneira ingênua. Posso dizer com certeza que aquele cara não será pego por vocês, detetives idiotas.

– O que vocês querem? – indagou Martin.

Cid estava prestes a responder, mas o Garra interrompeu.

– Não vale a pena perder tempo com ele, Martin – disse o mascarado – Ele é só um capanga. Não tem nada a dizer.

– Aí é que você se engana, herói. Drak tem muitas formas de trabalhar. Formas diferentes de todos os bandidos egoístas que vocês já enfrentaram.

– Como você pode saber alguma coisa? – desafiou o Garra – Quem pode dizer que você não está sendo usado como isca aqui?

– Porque eu tenho o poder de tirar e dar a vida. Foi este poder que Drak nos deu.

– De que merda você está falando? – perguntou Martin.

Cid deu uma gargalhada e por um momento, Martin pensou que ele ia estourar os miolos de Jailson e Dawson. Mas não aconteceu. Entretanto, Martin sabia que era só uma questão de tempo. Ele já tinha visto do que Cid era capaz.

– Pode até ser que você esteja alucinado pela ideia de ser Deus. Mas antes que consiga puxar o gatilho eu mando você direto para o inferno.

– Será mesmo? Será que o tão honesto detetive Martin Santos deixaria uma justiça assim acontecer neste local? Deixaria a minha insanidade vencer a justiça de vocês?

Martin rangeu os dentes. Não era a primeira vez que escutava aquele discurso – talvez não seria a última. Ele já tinha pensado em todas as formas possíveis de derrotar com Cid. Nenhuma acabaria muito bem. Jailson baleado – ou morto. Dawson baleado – ou morto. Ele ou Garra baleados. Cid morto. 

– Receio não ter muito tempo para discutir. Eu tenho uma proposta justa para vocês.

Proposta? De um psicopata? Martin continuava pensando. Devia haver alguma forma de acabar com o show de Cid.

– Creio que vai ser uma proposta vantajosa para vocês.

Garra estava calado. Martin suspeitou que ele também devia estar pensando em uma forma de parar Cid. Talvez escutar a proposta do bandido ganhasse tempo.

– Diga logo essa merda de proposta – disse Martin.

Cid soltou um risinho com um tom de orgulho.

– Exatamente como Drak me disse. Você não dobra o orgulho de uma pessoa, você faz ela se dobrar. 

Martin continuava pensando. Garra quieto por trás da máscara.

– Vamos negociar, detetive Martin.

 

CONTINUA…

POR NAÔR WILLIANS