Carlos enxergou Francisco revirando os últimos dois corpos de policiais mortos. Do outro lado, Marcos Aurélio brincava com sua calibre 12 enquanto Edward Boone roubava o dinheiro dos policiais mortos.
O subchefe recarregou sua arma. Três tiros. Três mortes. Ele precisava fazer aquilo. Lisa não ia resistir por muito tempo. Lisa dependia dele. A palavra depender incomodava Carlos profundamente. Algo em seu passado o obrigava a se esquivar dessa palavra. Era por esse motivo que ele não tinha esposa ou relacionamentos. Sua vida solitária era a melhor forma de escapar desse demônio chamado dependência.
– Ele não está aqui – resmungou Francisco irritado – O desgraçado não está aqui!
– Como isso é possível? Nós atiramos em todo mundo, inclusive no subchefe que estava sentado nesse banco ao seu lado – disse Marcos.
– Eu estou de saco cheio. Nós já perdemos muito tempo aqui. Quem se importa com o subchefe? – falou Edward.
Francisco saiu apressado na direção dele e o agarrou pela gola.
– Eu me importo, seu poço de merda! E se não achar a cabeça dele, acredite, vou pegar a sua no lugar.
Edward recuou depois que Francisco soltou sua gola. Suas mãos tremiam um pouco. Carlos sabia que Francisco era perigoso, mas até aquele momento não tinha entendido o quanto. Os bandidos o respeitavam e isso era mais perigoso ainda.
O subchefe pensara em barganhar com os bandidos. Ou colocá-los uns contra os outros – quase sempre funcionava. Mas não tinha mais tempo. Se quissesse tomar uma atitude teria que ser imediatamente.
Entretanto, neste momento, Lisa tossiu no andar de cima e isso chamou a atenção dos bandidos.
– Algum de vocês fez o favor de olhar lá em cima? – questionou Francisco.
Marcos e Edward não responderam e Francisco xingou um palavrão em alta voz. Porém, antes mesmo que ele pudesse fechar a boca, uma bala o atingiu no meio da testa e ele caiu no chão, morto.
Marcos e Edward saltaram do lugar onde estavam, assustados. Edward foi o primeiro que enxergou o subchefe na escada.
– Ali! O diabo está ali!
Foram as últimas palavras de Edward Boone. Duas balas o atingiram. Uma no olho e outra no pescoço.
Marcos Aurélio rolou para o lado enquanto o corpo de Boone caia no chão. Carlos disparou, mas o bandido conseguiu se esquivar e em seguida disparou com sua calibre 12.
A dor subiu da perna até a cabeça do subchefe. Seu revolver escorregou e caiu. Sua perna tinha sido atingida. Era como se estivesse pisando em brasas.
Marcos apareceu apontando a doze na direção do subchefe.
– Boa tentativa – disse o bandido ofegante.
Carlos tentou andar, mas acabou perdendo o equilibrio e caindo no chão. A perna latejou como se houvessem pontas de agulhas entrando e saindo de sua pele. Ele raspou os dentes.
– Eu não entendo essa mania de querer ser herói – era a voz de Marcos; os passos estavam próximos – Você poderia ter fugido ou se escondido, mas preferiu bancar o herói e olha só no que seu ato resultou. Dois homens mortos por um subchefe de polícia.
Carlos olhou para os lados. Onde sua arma tinha caído?
– Que linda notícia para o jornal de Castle Rock. Apesar de nossa cidade estar nessa situação lamentável, creio que o jornal não vai perder essa oportunidade.
O cano da arma de Marcos estava apontado no rosto do subchefe. Lisa ainda agonizava no andar de cima. O que ele faria agora? Não podia morrer. Ainda não. A palavra dependência estava voltando outra vez. Lembrando o subchefe de seus fracassos passados. Estariam se repetindo?
– Será que eles vão te reconhecer se eu atirar bem no rosto? – o bandido abriu um sorriso de satisfação – Acho que não. O herói matador de bandidos é encontrado sem cabeça. Essa notícia vai bombar.
Marcos Aurélio gargalhou e ajeitou a arma. Em seguida, o som de tiro ecoou no salão da delegacia.
A oficial Dias suspirou. Um último suspiro.
CONTINUA…
POR NAÔR WILLIANS